Um sentimento estranho - 1 ano depois

Por Ana

Hoje, dia 02 de fevereiro, há um ano atrás, estavámos eu, Larissa e Priscila no avião da TAP rumo a um semestre que mudaria nossas vidas.

Nesse dia, estávamos ansiosas, animadas, com um pouco de medo do que estava por vir (e também da longa viagem de mais de 11 horas), curiosas, já com saudade da família, namorado e amigos. Sem saber direito o que nos esperava do outro lado do Atlântico - afinal, nunca tínhamos viajado para o exterior e muito menos para a Europa.

Nesse dia, um pouco mais cedo, estávamos no aeroporto junto com as nossas famílias e namorados, todos aflitos: a família por ver um pedacinho seu indo para tão longe e os namorados na dúvida do que aconteceria conosco e com eles nesses quase 06 meses longe.

Despachamos as malas, cada uma com pelo menos 02 + a bolsa para levarmos conosco. Conferiram nosso passaporte, pesaram as malas. Elas começaram a viagem antes de nós.

Demos sorte de encontrar mais um amigo, o Jeferson, que também conseguiu a mesma bolsa de intercâmbio no mesmo voo que nós - mais alguém para dividirmos nossa ansiedade. 

O voo teve escala no Rio de Janeiro. Tivemos mais um tempo para absorver esse momento de ida. Almoçamos comida brasileira lá pelas 16h e pouco da tarde e fomos para nossa conexão rumo a Lisboa.

Ao entrarmos no avião, já sentimos um "bocadinho" das terras lusitanas: comissári@s de bordo falando a variante europeia do português. Tão fixe! Avião enorme, lugares espaçosos, tvzinha, cobertor, fone de ouvido, tudo para nossa viagem longa ser mais confortável.

Nesse meio tempo, a Pri tentava se acalmar (medo de avião). A Lari sentou do lado dela e eu sentei atrás das duas, na janela.

Enquanto esperávamos o avião partir, aquela angústia no peito de saber que nossas famílias estavam lá, nervosas esperando o avião decolar. Um avião da TAP pode ser visto de longe! Sinceramente, eu preferia nem pensar na angústia da minha mãe e do meu namorado - aquela tinha sido uma escolha minha, tinha que conviver com isso.

Quando o avião decolou, começou realmente nossa jornada/aventura/viagem/intercâmbio. Quase não sentimos tanto a demora para chegar em Lisboa, nosso voo era noturno e com a ansiedade que sentíamos... Tivemos duas refeições, uma janta e um café-da-manhã. Comida bem gostosa!

Durante o voo, as pessoas ficavam em pé, circulavam pela aeronave, se viravam e conversavam para passar o tempo e passar a dor de ficar sentado por muito tempo. Eu, sempre desconfiada, preferia ficar com meu cinto de segurança afivelado e só tirá-lo ou levantar da poltrona quando muito necessário.

Ouvimos diferentes línguas: inglês, alemão, outras línguas não identificáveis, mas principalmente o português. Várias partes do Brasil e da Europa naquele avião. Um gostinho do que estava chegando!

CHEGANDO

A noite passou, com o sono indo e vindo. Não era ruim de dormir, mas também não era a situação ideal. Lá pelas 06h e pouco da manhã do dia 03 de fevereiro começaram os trabalhos de "aterragem". Vimos um pouco de Lisboa no céu, mas nada muito impressionante, afinal o sol ainda tava acordando.

Pousamos, saímos nós 04 (eu, Lari, Pri e Jeff) do avião e pegamos um ônibus para nos levar até a entrada do aeroporto. Sinceramente, tínhamos mais ou menos esquecido da próxima parte: a imigração.

Ficamos numa fila ENORME e sentindo inveja daqueles que tinham o passaporte da União Europeia: esses não precisam esperar em fila nenhuma, é só passar. Anyway, ficamos lá, com sono, cansados e pensando ESTAMOS EM LISBOA!!!

Chegou nossa vez, só conferiram o passaporte, dissemos que estávamos lá pelo intercâmbio, tudo OK. Saímos daquela área e esperamos nossas malas. Era um lugar bem vazio.

Pegamos toda nossa bagagem, saímos da área de desembarque e avistamos Lisboa pelas portas de vidro do aeroporto. Mal conseguimos dar tchau pro Jeff porque já entramos na fila dos táxis, o Jeff ia tentar já usar o metrô.

Conseguimos um táxi grande e fomos nós três rumo à Avenida Elias Garcia, número 130. O taxista foi bem querido, nos mostrou algumas coisas pelo caminho. Deu 15 euros a corrida, 05 euros para cada uma de nós. Começamos bem!

Ao chegarmos na frente daquele prédio antigo, com um prédio vizinho que parecia estar desabando, ficamos meio, como posso dizer, "ressabiadas". Chamamos pelo interfone, ninguém atendeu. Tínhamos combinado que estaríamos ali 8h30. Já tinha passado desse horário e ninguém. Abrimos a porta do 130, que dava para uma escada, e estava aberta. Entramos ali para deixar as malas e não vimos ninguém. Não subimos porque, sei lá né. Resolvemos tomar um café numa padaria que tinha na nossa rua, a Padaria Portuguesa (sabe que até esqueci o nome? deve ser isso). Tomei um café com croissant e achei que fosse ir sempre naquela padaria, pois tudo tinha a cara muito boa.

Voltamos para a frente do prédio e finalmente alguém apareceu. Um dos "administradores" da residência foi lá nos atender. Aí começou a saga de subir para o terceiro andar com malas de 30 kgs + malas menores de 10kg. Boa sorte para nós.

As escadas eram velhas e eu fiquei com medo daquele lugar. Quando chegamos no nosso andar, o chão do corredor não era reto, era meio inclinado. Com o tempo, me acostumei, mas para alguém que nunca tinha ido ali era meio estranho (meio muito estranho). Quando vimos, nossa amiga Camila Chiaps apareceu saindo de um dos quartos e me mostrou onde era o meu. Gostei do que vi! Pela primeira vez eu teria um quarto só para mim - começo auspicioso. A Pri e a Lari dividiriam um quarto perto da cozinha.

O administrador nos explicou as regras da casa, como funcionavam as coisas, a divisão de espaços, etc.

Nos acostumamos ao lugar, enviamos mensagem para nossas família, fomos no Pingo Doce para ver algo para almoçar - ah, e aí começou minha paixão por aquele supermercado, que coisa fofa, bonita e barata!. Depois do almoço, fizemos um passeio exploratório com a Chiaps e mais a Marcela, outra intercambista da mesma bolsa que é de SP. Caminhamos pela Avenida da Liberdade para conhecer a vizinhança.

O que me impressionou de verdade e que eu sinto muita saudade era a largura da calçada nas grandes avenidas. Enquanto aqui em Poa o espaço é tão pequeno para os pedestres andarem, na Avenida da Liberdade era tudo bem espaçoso e largo. Coisa linda!

Mais tarde, voltamos para casa. E o intercâmbio tinha começado.

Hoje, um ano depois, tenho um sentimento estranho sobre aquele dia. Saudade define muito bem, mas na real é um dia meio triste, porque onde estou hoje? Em casa, na minha vida comum. Ano passado, ia pela primeira vez à Europa, rumo ao desconhecido, novo. Parece surreal agora tudo que vivi a partir do dia 02 de fevereiro de 2013.

O que me resta agora? Juntar dinheiro para voltar - para Lisboa, para a Europa, para algum lugar. Mas nada será igual àqueles quase 6 meses que se iniciavam há um ano atrás.

Quem já foi e voltou vai entender esse sentimento.

Fico muito feliz mesmo de ter tido a chance de viver tudo que vivi. Agora fica um gostinho de quero mais, quero voltar, vamos de uma vez!!!

Lisboa estará para sempre no nosso coração. E, mais do que tudo, vai ficar sempre nos chamando para voltar. Espero que esse dia não demore muito!

Para diminuir a saudade, fico olhando as fotos e fico acompanhando a jornada de quem está indo a passeio para a Europa agora nas férias, mas principalmente acompanhando aqueles que vão viver uma jornada parecida com a nossa, como a Lu Lamberti (que também vai estudar na Nova e morar em Lisboa) e a Bruna Oliveira (que está fazendo intercâmbio em Dublin, cidade que tanto passei a amar). As experiências delas e de outras pessoas fazem a gente lembrar da nossa e relembrar o quão importante foi esse tempo que vivemos lá.

Fico agora à espera da TAP lançar uma promoção bem boa numa época possível para eu retornar o mais cedo para Lisboa!

Como diria a Lari, "hoje já faz um ano que a gente pegou aquele avião para nunca mais voltar igual".